MEU PAI, MEU
MESTRE
Meu pai sempre dizia que eu era muito esperta. Quando entrei no primeiro ano, já sabia ler e escrever várias palavras. Ele era o meu grande incentivador e hoje sei que o meu gosto pela leitura começou com aquele homem carinhoso e alegre.
Lembro-me da minha primeira leitura
num livro só meu, cheio de gravuras. Eu estava em um hospital, tinha acabado de
tirar as amígdalas, naquele tempo acreditavam que elas só atrapalhavam; eu
fiquei fascinada por aquele livro cheio de gravuras e atividades para ligar e
colorir. Era a revista Recreio, não essa que conhecemos hoje, mas aquela,
daquele tempo, feita para pessoas como nós que apreciam as coisas boas do
passado. Como eu fiquei feliz quando ele me deu a revista! Ela parecia
transportar-me para um mundo mágico... Lembro-me que enchi meu pai de
perguntas, queria decifrar todas as letras... Gostava quando ele falava que eu
era esperta.
Na primeira série
também me encantei com a cartilha Caminho Suave, tinha verdadeira paixão pelas
gravuras, elas deixavam tudo mais fácil, o desenho do gato que parecia
enforcado, ensinava um “g” engraçado, o “V” da vaca, feito chifre, era o meu
desenho predileto, eu vivia desenhando aquela vaquinha. E também as professoras
diziam que eu era esperta, não era só o meu pai... Foi então que comecei a
acreditar que eu era mesmo especial.
Ah! Mas o que eu mais
gostava mesmo era das músicas, até hoje eu sei cantarolar a letra da onda,
quando a professora nos ensinava a treinar a letra “C”:
“Onda vem, onda vai, lá na praia a marulhar, quebra aqui,
quebra ali, sempre, sem cessar.”
Bem se vê que o
lúdico sempre esteve presente em minha vida e não é à toa que o meu trabalho de
graduação defendeu esse tema, pois são essas coisas que marcam e são eternas em
nossas vidas.
As lembranças que busco no meu
passado, sobre o meu primeiro contato com o ler e o escrever, não são aquelas
das primeiras séries, mas da minha época de ginásio e, parafraseando Carlos
Drummond de Andrade, posso dizer que nasci na sala da sexta série do ginásio,
durante uma aula de Filosofia. A minha professora chorou ao entregar a minha
redação. Ela disse que a redação estava muito bonita e que ela ficou muito
emocionada quando leu. O tema era: “Para quem eu gostaria de escrever”, claro
que escrevi para o meu pai, lembro-me que eu disse que ele era uma estrela
pequenina no céu, mas que fazia tudo para brilhar, que era pai e mãe ao mesmo
tempo e que eu o amava muito. Desde então, nunca mais parei de escrever.
Vinte anos depois, encontrei, por acaso, aquela folha amarelada pelo
tempo, dobrada em quatro partes e mostrei a redação para o meu pai. Ele chorou
e disse: “você sempre foi muito esperta”, depois pegou a minha carteirinha da
primeira série e deu-me de presente. Disse que queria que ficasse comigo, pois
tinha medo de partir de repente...
Fiquei muito emocionada, olhei cada
detalhe daquela caderneta, com várias bolinhas verdes e algumas azuis, não sei
exatamente o que elas significam, mas sei que eu sou uma pessoa muito
importante para o meu pai, pois a carteira parece nova e, afinal, no mês que
vem, completo quarenta anos.
Aprendi a ler e a
escrever com o meu pai, mas com ele aprendi a lição mais importante: “o caminho
que nos leva ao sucesso começa em casa, com a família, com palavras de
incentivo e afeto”.
Maria Cristina Gama
Crônica publicada no Jornal
Valeparaibano em 10 de agosto de 2005.
5 comentários:
Hoje acordei aqui.Sonhei enquanto li e me encantou a tua ligação com o teu pai. Eles foram e são os nossos heróis. A sua luta foram os filhos e as suas alegrias foram também os filhos.
Parabéns pelo texto e pelos herois descritos com tanto amor e vida.
Um texto que emociona, pela simplicidade das coisas ao aprender, que chega a encantar. Parabéns por essa linda homenagem.Tudo de bom pra você, beijos.
Excelente homenagem....
Cumprimentos
olá Chris
Linda essa crônica! Uma boa dedicatória ao seu pai!
Oi Cris! boa tarde, entrei para conhecer teu blog adorei parabéns pelas suas postagens, suas poesias são lindas!! já estou seguindo, convido você a conhecer o meu, se gostar participe. Bjuss
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